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Notas sobre (e para) a internacionalização nos tempos de “fique em casa”

Por José Marcelo Freitas de Luna - Doutor em Linguística pela USP e professor do PPGE da Univali - mluna@univali.br


por | 19/05/2020

Professor Luna editado.jpgFoi agradável receber comentários, de colegas das redes sociais, a respeito das notas por nós feitas sobre o fomento e o respeito à autoria. Foi agradavelmente surpreendente ouvir um comentário, de Gregório Duvivier, no seu GregNews, a respeito de Anísio Teixeira. Foi consequentemente inspirador (re)ler sobre a educação como promotora do “alargamento das nossas mentes". Foi didaticamente desafiador reconhecer a relação entre os comentários, sobre as minhas notas, feitos por interlocutores de nacionalidades e perfis culturais diversos, e aquele, a respeito de um dos grandes educadores, feito por parte do conhecido humorista brasileiro. Tudo isso aconteceu ao longo dos dias que separam aquelas notas destas; tudo isso aconteceu interativa e remotamente; tudo isso aconteceu como que para exemplificar o que podemos entender por internacionalização doméstica, do inglês internationalization at home (IaH).

Referimo-nos a um redimensionamento curricular que se marca pela incorporação de uma perspectiva intercultural aos objetivos de aprendizagem, ao conteúdo programático, aos recursos instrucionais, às estratégias de ensino, e às avaliações das disciplinas. Assim orientados, esperamos, como professores, desenvolver nos estudantes, onde quer que estejam, uma conscientização intercultural e uma cidadania responsável. Mais objetivamente, a interculturalidade distingue-se como a condição que se deseja estabelecer e manter, nos educandos, de questionar concepções epistemológicas e práticas monoculturais.

Refiramo-nos a uma aplicação. Pelo que se vem conhecendo como intercâmbio virtual, notadamente com o crescente emprego de recursos tecnológicos à educação, estudantes estrangeiros e brasileiros podem ser provocados à leitura e à discussão dos textos ditos autorizados, bem como daqueles considerados marginais ou marginalizados por práticas colonizadoras. Façamos isso em língua inglesa, se for a língua de instrução, ou em qualquer outra língua. O que não pode faltar é a criação de cenários para o diálogo com o Outro, estratégia fundamental para o desenvolvimento de competências comunicativas interculturais. Foi o que fizemos com as primeiras notas, com os seus respectivos comentários; foi o que fizemos, também, com o pensamento de Anísio Teixeira, e com outros pensadores da Educação, como Humboldt; foi o que fizemos com o humor, com os humores, todos culturalmente sensíveis. Tratamos de falar e ouvir, por vozes nos mais diferentes sotaques, sentidos literais e metafóricos do nosso saber-fazer e do saber-fazer do Outro. Ainda mais aplicadamente referindo, esses tempos de “fique em casa" parecem plenos de estudos de caso, ou mesmo, para o emprego dessa estratégia de ensino e de avaliação. Selecionados intencionalmente a partir do critério de representatividade da diversidade cultural, eles são fundamentais ao desenvolvimento de competências, citemos uma, como o respeito ao outro.

Respeitar a diversidade em sua alteridade. Por nossa prática docente, atestamos que os encontros virtuais entre educandos podem redundar em confrontos e desencontros entre culturas. Isso porque há uma tradição histórica de valorização e desvalorização dos conhecimentos, que se identifica com a relação entre culturas dominantes e aquelas dominadas. Como instituição, a escola em geral pode discriminar e marginalizar textos e línguas, conhecimentos e culturas, estudantes e povos. Contrariamos essa conduta, apoiados em Fornet-Betancourt, filósofo latino-americano. Para o autor, não há prática intercultural sem uma grande e crescente disposição do ser humano capacitar-se a viver a sua identidade no relacionamento com o Outro, diálogo em que o Eu não é egocêntrico. Não é à toa que Edgan Morin, no celebrado Os sete saberes necessários à educação do futuro, destaca o apoio na perspectiva intercultural como fundamento para a gestão de nossa diversidade cultural; e ele o faz, associando a democracia como base para a gestão social e política. Essa associação aqui nos é oportuna para fazermos as devidas notas acerca da noção de cidadania responsável. Formalizada nos termos da Oxfam International como o conceito de cidadão global, o perfil correspondente é daquele que se reconhece por um papel a desempenhar dentro de um mundo que é movido por mecanismos econômicos, políticos, sociais, culturais, tecnológicos e socioambientais. Como um cidadão global, o formado participa e contribui para a sua comunidade tanto local quanto globalmente; é uma pessoa que respeita e valoriza a diversidade, que se indigna com a falta de justiça social e que assume responsabilidade por suas ações.

A experiência docente que aqui (a)notamos marca-se pelo gosto e pelo desafio de ver estudantes de países e culturas diferentes, de suas casas e de suas plataformas, alargarem as suas mentes pela interação respeitosa com o Outro. O intercâmbio virtual já se prova cientificamente como uma das formas de se fomentar, manter e desenvolver e internacionalização para todos. Estas notas semanais não estariam completas se não disséssemos que há limites – transponíveis - das pessoas significarem a natureza simbiótica da relação entre elas mesmas, os outros e o mundo. Essa constatação acrescenta-se a semelhantes anotações que se podem fazer a partir da nossa experiência como docente de brasileiros exclusivamente, ambientados que estão na nossa pluralidade de realidades sociais com suas crescentes idiossincrasias étnicas. Por essa razão, educar interculturalmente, presencial e remotamente, torna-se agradavelmente imperativo.​



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