Líder e fundadora da equipe que realiza partos em casa conta como se apaixonou pela profissão
Quando a egressa do curso de Enfermagem, Vânia Sorgato Collaço, viu um parto pela primeira vez, na época de faculdade, ela teve a certeza que tinha encontrado a sua vocação. Atualmente, a enfermeira obstétrica é referência nacional no atendimento de parto humanizado e lidera a equipe Hanami, grupo pioneiro no Brasil na realização de nascimentos em casa.
Vânia formou-se em 1987 e em 89 concluiu a pós-graduação em Obstetrícia Neo Natal e Social na Univali. "A vontade de lidar com o público começou na universidade. Fiz parte do projeto Rondon, visitávamos os bairros para fazer palestras sobre DSTs, íamos examinar crianças das creches domiciliares e ensinávamos até como fazer merenda. Era muito divertido e muito proveitoso" relembra.
Vânia é mãe de dois filhos, Yuri e Rúbia. Já o número de nascimentos que atendeu diz já ter perdido as contas. Só de partos domiciliares foram mais de cem. Em 1995, a enfermeira mudou-se para Florianópolis, onde passou a trabalhar na maternidade do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina e alguns anos depois também passou a dar aulas na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul).
Cinco anos depois, participou da Conferência Internacional sobre Humanização do Nascimento, que segundo ela, lhe abriu uma nova percepção sobre o cuidado no parto. Focada no assunto, Vânia seguiu o mestrado, e escreveu o livro "Parto Vertical" lançado em 2002 e atualmente com edições esgotadas.
O parto domiciliar
A carreira tomou um novo rumo quando ela foi chamada por uma aluna para realizar seu primeiro parto em casa. E o grande divisor de águas na vida e na profissão aconteceu em 2004 quando Vânia viajou para o Japão para conhecer as casas de partos, comuns naquele país. "Lá eu aprendi técnicas de como prevenir e não interferir no processo do parto. Respeitar o corpo e os desejos da mulher e criar uma atmosfera acolhedora no momento do nascimento", explica.
Transformada por essa experiência, compartilhada com a também enfermeira obstétrica Iara Silveira, Vânia precisava encontrar uma forma de colocar em prática tudo o que tinha visto e vivido no Japão. Surgiu então a equipe Hanami – o florecer da vida. O nome, que em japonês significa o desabrochar da flor de cerejeira, vai ao encontro da ideologia das profissionais, que é respeitar o processo natural da vida, de forma sensível, segura e com a menor interferência possível.
O parto domiciliar planejado é uma opção para famílias e mulheres com gestação de baixo risco. Estudos evidenciam que os partos domiciliares trazem menores complicações e menos problemas neonatais. Os hormônios envolvidos no parto fluem melhor, isso se traduz em segurança e saúde para a mulher e o bebê. Também chamado de parto ativo, ou parto consciente, essa forma de parir não deve ser imposta, pelo contrário, a entrega da mulher, junto com a família, é fundamental.
A equipe Hanami desenvolveu uma dinâmica própria. O atendimento começa na 37ª semana de gravidez. Realizam consultas domiciliares pré-natais de avaliação, esclarecimento e interação com a família e o ambiente. E consultas pós-parto para acompanhar o bem-estar da mãe e do bebê e o estabelecimento da amamentação. No dia do nascimento, a equipe dispõe de equipamentos para situações de eventual emergência. No site www.partodomiliar.com há mais detalhes sobre o trabalho da equipe.
"Eu sou profissional, mas eu consigo me envolver. As pessoas fazem parte da minha vida e eu também farei parte da vida delas para sempre" conta Vânia. É dessa forma, totalmente entregue à profissão, que a enfermeira orgulha-se de ser uma das pioneiras do movimento pela humanização do parto em Santa Catarina.
"Tem uma frase que eu gosto muito, que diz: 'O caminho de um semeador nunca será em vão', e acho que a proporção que esse movimento vem ganhando é fruto da vontade sincera que temos de ter pessoas melhores, que são respeitadas desde o nascimento" emociona-se Vânia.
Publicado em Conexão Egresso, em 29.04.2011