O ano geralmente começa com
conselhos e com muitas promessas de investimentos e melhorias para a nossa
vida. Voltar a praticar exercícios físicos, reeducar a alimentação e retomar o
hábito de poupar parte do salário ou da mesada estão entre os mais comuns.
Destaca-se também aquele conselho
ou aquela promessa de começar ou voltar a estudar uma língua estrangeira. Tal
como o exercício físico, a boa alimentação e aquela reserva financeira, o aprendizado
de idiomas é o que quase todos nós queremos e o que todos nós precisamos.
Se queremos e precisamos, por
que, então, a maioria de nós está frequentemente recomeçando, depois de intervalos de
distância das escolas e dos livros de inglês, por exemplo? Perguntando-nos de
outra forma: por que dependemos dos conselhos e das promessas comuns ao início
de cada ano para (re)começar? A análise de dados de uma pesquisa de nossa
autoria aponta como resposta a dificuldade de o indivíduo manter as motivações
fundamentais ao ensino e à aprendizagem de uma língua estrangeira, quais sejam,
a integracionista e a instrumental.
A motivação integracionista revela-se
no gosto e no interesse duradouros e crescentes pelo que é ou parece ser dos
países e dos povos que falam uma determinada língua. Indivíduos assim motivados
tornam-se alunos não só dentro, mas fora da escola. Assistem a filmes; leem
revistas e jornais nessa língua; querem falar com nativos e tentam imitá-los,
na escolha de suas palavras e no seu sotaque. Alguns indivíduos assim motivados
desejam viver por um tempo ou mesmo mudar-se para o país estrangeiro. De fato,
com base na referida pesquisa, esses indivíduos amam a língua estrangeira,
desejando integrar-se àquela cultura. Constata-se
também que esses indivíduos não interrompem tão frequentemente seus estudos,
tampouco mudam tanto de escolas de línguas; os motivados integracionistas
exibem ainda outra característica, a de se dedicarem a uma única língua, não
estudando, costumeiramente, uma segunda ou terceira língua estrangeira.
Por sua vez, a motivação
instrumental define-se pela noção de utilidade de uma língua estrangeira. Quando
motivados instrumentalmente, os indivíduos querem aprender um idioma por
precisarem, não por gostarem dele. Como alunos, eles geralmente procuram a
escola e o professor para instruí-los o suficiente para uma viagem ao exterior,
para a realização de um exame ou para outros fins específicos. Esses indivíduos
costumam ter uma atitude negativa em relação aos países e aos povos que falam a
tal lingua estrangeira. Tornam-se alunos que, quando supõem atingido o
objetivo, deixam, em geral, o curso. Comportam-se também como alunos que
atribuem ao professor e à escola a sua falta de progresso no idioma. A
motivação instrumental costuma também mover esses mesmos indivíduos a estudarem
duas ou três línguas.
“Coloque mais idiomas na sua
vida”, chamada vista em propaganda de uma escola de línguas, soa também como um
conselho para todos nós. Gostar quase que natural e intensamente de uma língua
estrangeira é fundamental à relação ensino-aprendizagem. Igualmente importante
para o professor e o aluno é a noção de que, com o conhecimento de idiomas,
objetivos variados podem ser atingidos.
O ideal, portanto, é valorizar e
dar lugar aos dois tipos de motivação. O ideal é que os indivíduos
diferentemente motivados possam encontrar-se e interagir em um mesmo grupo,
como na escola, na praia, na festinha, no trabalho e em tantos outros espaços
de aprendizagem. O ideal é que haja troca de experiências e de conselhos entre
aqueles que adoram o inglês, por exemplo, e aqueles que não gostam tanto “do
idioma dos Estados Unidos”, mas que o estudam assim mesmo, porque precisam,
como nós já precisamos e possivelmente gostamos do espanhol, do francês, do
alemão, do mandarim ... .