Itajaí – Uma pesquisa realizada por acadêmicos e professores do curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) aponta os efeitos da fumaça do narguilé na língua, na traqueia e no pulmão. O estudo, com abordagem qualitativa e quantitativa, foi desenvolvido com 20 camundongos Balb/C. O trabalho será apresentado, entre os dias 4 e 6 de setembro, na Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica, na cidade de Campinas (SP); e em maio de 2018, no International Conference on Oral Surgery, Medicine, Pathology and Radiology, em Londres, na Inglaterra.
Os acadêmicos Carolina Simão Flausino e Guilherme Fernandez Hoffmeister e os docentes David Rivero Tames e Sarah Freygang Mendes Pilati são os autores do trabalho, que surgiu a partir de artigos semelhantes ao tema escolhido, focados em órgãos distintos. "Trata-se de um tema ainda pouco abordado em pesquisas científicas que, em contrapartida, gera preocupação em relação à saúde pública, principalmente pela falta de conhecimento da população sobre o impacto do uso do narguilé", destaca a professora Sara, coordenadora da pesquisa.
No estudo, os 20 camundongos foram divididos em quatro grupos de cinco animais cada. Um dos grupos atuou como grupo controle e os outros três como experimentais, com coleta de dados durante os períodos de 7, 15 e 31 dias, diariamente, para obtenção de resultado fidedigno. Os grupos experimentais ficaram em confinamento por meio de uma caixa vedada, ligada ao aparelho de narguilé comum com um dispositivo que faz a sucção do tabaco e que o joga dentro da caixa. Os animais foram expostos à fumaça do narguilé de 50g, com porcentagem 0,5% de tabaco não lavado, glicerina, melaço e sabor natural de maçã e ao carvão de fibra de coco. A duração da sessão foi de 30 minutos por dia, tempo selecionado a partir de estudos publicados recentemente que avaliaram efeitos cardiorrespiratórios da fumaça do narguilé em seres humanos. A taxa de fluxo da bomba também foi ajustada seguindo um regime que se aproxima da topografia do sopro humano durante o uso do aparelho do narguilé. A coleta de dados ocorreu entre outubro e novembro de 2016 e a obtenção das amostras deu-se por meio de cirurgia para retirada dos órgãos analisados.
Os resultados obtidos
Foram observadas alterações representativas em todos os órgãos analisados. Na língua, os pesquisadores constataram alteração do epitélio (tecido que reveste os órgãos), com áreas de espessamento e mais queratina e em profundidade havia inflamação mais intensa. Já a traqueia apresentou alteração do epitélio dando início ao processo de metaplasia, alteração que é observada em pacientes que fazem uso de cigarro. No pulmão, há registros de diminuição dos espaços onde ocorre a troca respiratória, maior quantidade de neovasos e inflamação. Todos os processos foram encontrados de forma mais acentuada à medida que aumentavam os dias de exposição à fumaça do narguilé.
A coordenadora da pesquisa comenta que ainda há poucas informações sobre os efeitos do narguilé na boca. "Neste sentido o estudo avaliou as alterações apenas na língua, que apresentou lesões chamadas de –potencialmente malignizáveis – ou seja, lesões que oferecem maior risco de virar câncer", alerta. Segundo a docente, a partir deste trabalho surgem novas linhas de pesquisa no grupo, desta vez com avaliação do uso em um período mais longo.
Falsa inofensibilidade
Sarah alerta que, diferente do que muitos acreditam, o narguilé não é menos ofensivo do que outras formas de fumo, como o cigarro convencional. "Há crescimento evidente do uso deste tipo de fumo no mundo todo, inclusive no Brasil. Tem-se como crença popular a inofensibilidade do narguilé, o que não é verdade. Outra coisa preocupante é a falta de controle na compra e no uso deste produto", pondera.
Mais informações: (47) 3341-7564, na coordenação do curso de Odontologia da Univali.